A Expiação de Cristo
A Bíblia nos mostra que a redenção da humanidade não foi um plano de emergência, mas sim uma decisão divina tomada antes mesmo da fundação do mundo.
A salvação, que se concretizou no sacrifício de Jesus na cruz, estava nos planos de Deus desde a eternidade (Efésios 3:10-11). Para entendermos a profundidade desse sacrifício, podemos olhar para as leis e rituais do Antigo Testamento, que serviram como modelos e prefigurações do que viria a ser realizado em Cristo.
I. O Tabernáculo e Seus Mobiliários
O tabernáculo, a tenda sagrada onde Deus se encontrava com seu povo, foi construído segundo um padrão divino. Cada parte e objeto dentro dele apontava para uma verdade espiritual maior.
A. O Pátio Externo
O pátio era a primeira área de acesso. Ali, dois objetos se destacavam:
1. O Altar do Holocausto: Era o lugar onde os sacrifícios de animais eram oferecidos para a expiação dos pecados (Levítico 17:11). Esse altar, onde o sangue era derramado e a vida era entregue, simbolizava a necessidade de um sacrifício de sangue para a remissão dos pecados.
2. A Pia: Feita de bronze, continha água para a purificação dos sacerdotes antes de entrarem no Lugar Santo. Representava a necessidade de santificação e purificação antes de se aproximar de Deus.
B. O Lugar Santo
Após a purificação na pia, o sacerdote entrava no Lugar Santo. Era iluminado, aquecido e alimentado por três objetos:
1. O Candelabro de Ouro: Simbolizava a luz de Deus e a presença do Espírito Santo, que ilumina o caminho do crente.
2. O Altar do Incenso: O incenso era oferecido diariamente e seu aroma subia a Deus. Representava as orações dos santos que chegam até o trono de Deus.
3. A Mesa dos Pães da Proposição: Havia 12 pães, representando as 12 tribos de Israel. Eles simbolizavam o alimento espiritual que Deus provê, a comunhão e a provisão divina.
C. O Lugar Santíssimo (Santo dos Santos)
Separado do Lugar Santo por um véu, o Lugar Santíssimo era o ponto central do tabernáculo. Somente o sumo sacerdote podia entrar ali, e apenas uma vez por ano. Dentro dele ficava:
1. A Arca da Aliança: Continha as tábuas da Lei, a vara de Arão que floresceu e um vaso de maná. Esses itens lembravam o povo de Deus de Sua lei, provisão e autoridade.
2. O Propiciatório: A tampa da arca, onde o sumo sacerdote aspergia o sangue sacrificial. Era o "trono da misericórdia" de Deus, o lugar onde a graça se encontrava com a justiça.
II. O Dia da Expiação
Em Levítico 16, encontramos as instruções para o Dia da Expiação, o único dia do ano em que o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos para fazer sacrifício pelos pecados de todo o povo.
A. O Ritual Anual
Esse dia era a representação mais clara do plano de salvação que seria consumado em Cristo. O sumo sacerdote, com vestes sagradas e purificado, oferecia um novilho por seus próprios pecados. Em seguida, oferecia um bode por "oferta pelo pecado" de toda a nação. O sangue desse bode era aspergido sobre o propiciatório.
B. O Bode Expiatório
Um segundo bode era usado como "bode expiatório". O sumo sacerdote colocava as mãos sobre a cabeça do animal, simbolicamente transferindo os pecados do povo para ele. O bode era então enviado para o deserto, carregando os pecados para longe da comunidade (vv. 20-22). Esse ritual simbolizava o perdão completo e a remoção dos pecados do povo.
III. Expiação de Cristo
Toda a simbologia do Antigo Testamento encontra seu cumprimento perfeito em Jesus Cristo.
A. Nosso Sumo Sacerdote Perfeito
Jesus é o nosso Sumo Sacerdote, mas não como os sacerdotes humanos, que eram imperfeitos. Ele é santo, inocente e separado dos pecadores (Hebreus 7:26; 4:15).
B. A Purificação e o Sacrifício Definitivo
Ao ser batizado por João Batista, Jesus não o fez para se purificar de pecado (pois não tinha nenhum), mas para "cumprir toda a justiça" (Mateus 3:11, 15). Ele se identificou com a humanidade pecadora para que pudesse nos representar perfeitamente.
Diferente do sumo sacerdote humano, que precisava oferecer sacrifícios por seus próprios pecados, Jesus não precisava de sacrifício para si mesmo, pois era sem pecado (Hebreus 7:26-28). Ele foi o cordeiro sacrificial, feito pecado por nós (2 Coríntios 5:21), o sacrifício perfeito para Deus.
C. O Sangue de Cristo
O sangue de Jesus, derramado na cruz, é a base da nossa redenção.
• Expiação: Seu sangue é o pagamento pelos nossos pecados (Mateus 26:28).
• Propiciação: Seu sacrifício aplacou a justa ira de Deus contra o pecado, tornando-o "propício" para conosco (Romanos 3:25).
• Nosso Propiciatório: A cruz de Cristo se tornou nosso lugar de encontro com a misericórdia de Deus (Hebreus 9:5).
Veja também- Pregação sobre a Arca da Aliança: Testemunho, Vínculo e Caminho Êxodo 25:16
- Livro da Lei é a Palavra de Deus hoje II Crô 34-35
- Liderança Cristã Hoje: Desafios e Oportunidades
Conclusão
O livro de Hebreus nos resume a totalidade da obra de Cristo:
"Portanto, era necessário que as cópias das coisas que estão nos céus fossem purificadas com esses sacrifícios, mas as próprias coisas celestiais, com sacrifícios superiores a estes. Pois Cristo não entrou em santuário feito por mãos humanas, uma mera representação do verdadeiro; ele entrou no próprio céu, para agora se apresentar diante de Deus em nosso favor. Não que ele tivesse que se oferecer muitas vezes, como o sumo sacerdote entra no Lugar Santíssimo todos os anos com sangue alheio; se assim fosse, Cristo teria que sofrer muitas vezes, desde o começo do mundo. Mas agora ele apareceu uma vez por todas, no final dos tempos, para aniquilar o pecado mediante o sacrifício de si mesmo. Da mesma forma, como o homem está destinado a morrer uma só vez e depois disso enfrentar o juízo, assim também Cristo foi oferecido uma vez por todas para tirar os pecados de muitos; e aparecerá segunda vez, não para tirar o pecado, mas para trazer salvação aos que o aguardam." (Hebreus 9:23-28, NVI)